Terrinha

Quando estou ausente há muita coisa que me passa ao lado, em 8 meses em Londres sinto-me totalmente em casa e quando aqui na terra me questionam é isso que respondo e ficam com ar incrédulo. Acho que se o emigrante não é um pobre coitado que só quer voltar para Portugal é logo sinalizado como "estranho". Em Lisboa nunca me senti em casa, em Londres foi quase imediato. Talvez porque faço um estilo de vida que sempre desejei e felizmente não passamos dificuldades financeiras o que faz muito ao caso.
Mas agora sabe-me muito bem vir à terra, há lugares que gosto de ir tomar o café e apanhar sol, a feira onde vou ver as pechinchas, o pão que é uma delícia no Snopao da Santa, as várias lojas dos chineses cheias de tralhas que nada interessam, as ruas cheias de buracos, as andorinhas, o baloiço no quintal, o café a 1.50 na aguda, o trânsito do Corvo, a passagem de nível horrorosa de Miramar, os vizinhos que dizem que estou airosa e mais magra, o pote dos rebuçados da minha tia, as longas conversas com a minha irmã, a relação fantástica da minha filha com os avós, o conduzir pela Granja e Miramar e sonhar que um dia hei-de ter uma casa assim juntinho ao mar e linda. Todas estas e muito mais coisas estão sempre guardadas no coração em fogo morno, quando chego a Portugal são elas que desejo fazer, tipo rituais que é preciso cumprir para a viagem e as férias serem bem sucedidas.
Juntei aos meus rituais ir ao parque infantil de Salgueiros onde a minha filha cavalga nos golfinhos com vista para o mar. Acho o local do parque fantástico, a brisa, o mar e já é algo nosso.
Tenho rituais com os amigos de sempre e que são nestes anos todos os mesmos, mas nos aconchegam a alma, porque se há algo que estimo é a amizade.
Se pensar bem na minha vida, sou feliz. Tenho uns pais que me adoram, protegem e ajudam. Adoram a neta e o genro. Os meus amigos são poucos mas nunca me falham. A minha irmã se fosse de sangue não sairia tão perfeita. A minha família é unida e estão lá para mim. O meu namorado não vive sem os meus beijinhos. A minha filha é tudo que desejamos e única. Ainda paro para apreciar as estrelas, sentir o cheiro do mar e outras coisas assim profundamente acolhedoras, por isso sim sou muito feliz!

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