Pequenos prazeres

Ao viver em Lisboa durante 7 anos ausentei-me dos amigos e da família. Éramos os dois a maioria do tempo. Ao trabalhar a 10 minutos a pé de casa e ele a 16 km, era eu a maior parte do dia e o silêncio. Como trabalhei sempre no máximo umas 20h por semana, há excepção de quanto fazia manhãs no público, tardes nas AEC's e explicações num centro sempre passei muito tempo em casa. Raras vezes fui passear na baixa, o mais habitual era ir ao Vasco, shopping. Vivi na Bobadela, na mesma casa por 7 anos. Adorava a zona, extremamente segura, num T3 espaçoso com vista para o Tejo. Como era lá professora toda a gente me conhecia, mas mal entrava em casa aquela sensação de UFA cheguei. Podia ficar deitada no sofá só a relaxar, ler um livro, ver TV, cozinhar durante horas, fazer ginástica, banhos maravilhosos de imersão... Tinha muito tempo só com a casa para mim e no mais profundo silêncio. Em 2012 fiquei pela 1x, 3 meses sozinha em Lisboa, ele esteve ausente em trabalho. Achei que ia odiar mas pelo contrário, tive ainda mais tempo livre, mais silêncio, amei cada segundo. Quando grávida de 6 meses ele se ausentou por mais 3 meses foi para mim ponto assente que só aceitava companhia quando faltasse 1 mês para parir. Não estive a trabalhar desde os 3 meses de gravidez. Não me custou nada passar dias e dias sem falar com ninguém a não ser no Skype. Passei imenso tempo sem pôr os pés na rua. Descansei imenso e não me senti nada sozinha. Depois a  minha vida deu a volta com a Lai. Não há minutos de solidão com uma bebê, nem de silencio. Ao fim deste tempo é ainda muito difícil, muitas vezes impossível, ter tempo para mim apenas. A forma que encontro é quando ele e ela dormem eu deixo-me ficar mais 1h no silêncio. Leio os meus blogs, escrevo posts, vejo TV. Ela dorme às 20-21h por isso ainda consigo encaixar a ginástica aí e algumas vezes os cursos online, mas na realidade o que mais me apetece sempre fazer logo ali às 20h é enfiar-me na cama a babar para a TV. De modo que este silêncio de ressonares é quando a minha alma se restaura do dia. Que vejo tudo que alcancei e onde podia ter sido melhor. Hoje posso-vos dizer que reparei que apanhei um escaldão na cara e tenho as mãos muito secas. Coisas assim banais que no corre-corre podem nos passar ao lado. Cada dia tento ser melhor mãe, namorada, filha e amiga do ambiente. Hoje foi um dia bom 90% do tempo, mas são aqueles 10% que me aborrecem e me fazem questionar.
Tenho sono, amanhã é domingo, daqui a 15 dias vou 3 semanas para Portugal. Espero não enlouquecer com a falta de silêncio. Quando nos habituamos a nossa concha, é difícil enfrentar o resto do mundo.
Isto já está a filosofar demais, tenho sono é só isso, uns dias dá-me para chorar noutros escrever textos sem nexo. Bolas!

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