Um dia percebi, mas demorou!

Há dois anos a esta mesma hora estava na estação do Oriente em Lisboa. A minha mãe após um mês a viver comigo regressava ao Porto, a casa dela. O meu mais que tudo havia regressado de Inglaterra após três longos meses ausente em trabalho. Eu pesava uns belos 80kg e estava inchada que nem um pote. Na barriga carregava a Lai prontinha para nascer. Estava sol e imenso calor e comi um Fizz de limão. Foi um dia apaixonante. Não sabia que seria a última vez que a Lai seria só minha e a última vez que a sentiria mexer dentro de mim. 

Hoje guardo saudades dos seus pontapés no meu ventre e das tardes as duas deitadas a ver tv enquanto a afagava. Não tinha noção que nesse dia em que fazia 38 semanas de gestação ela ia querer sair e ver o pai. Quando vejo corpos de mulheres com as suas estrias e flacidez da gravidez, olho a minha estria, filha única bem por baixo do meu umbigo e sinto-me feliz. Demorei mais de um ano a entender que sou mãe. Não me senti mãe ali com os xutos na barriga nem quando ela mamava e sorria para mim. 

Hoje sei que durante demasiado tempo me custou saber que a vida nunca mais seria a mesma. A Andreia que fui só se reencontrou com o tempo, esta mãe apaixonada que sou levou a habituar-se que há um bem maior que quero ver feliz e saudável mais que tudo. Virar a página não foi quando a vi fora da barriga, foi lá com o tempo. Cliché dos diabos, hoje não me imagino sem ela e o seu sorriso é o meu melhor remédio. Amanhã ela faz dois anos, dois anos depois sou tão feliz. Não preciso de mais nada que não ela e sofro horrores de saber que ela não é mais só minha, é do mundo. Tenho pânico que alguém possa ser mau com ela e sei que um dia ela será má para mim, como fui com os meus pais tantas e tantas vezes. Hoje compreendo a dor da minha mãe quando fui estudar para Coimbra. Sei o quão fortes têm de ser os meus pais por eu estar tão longe. Tramado ser mãe e saber que temos de os deixar voar!

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