A Miss Mastiga


Adopção

Eu nunca fiz questão de ter filhos...entenda-se daqueles que nascem do sexo entre eu e outra pessoa; que crescem na minha barriga e que saem pela minha dita cuja. Nunca! Sempre disse que preferia adoptar, pois crianças a precisar de ser amadas não faltam, infelizmente! Acontece que não querendo casar, não tendo casa, carro ou ordenado de jeito (agora é mais subsídio miserável) ninguém me deixaria adoptar uma criança. Ainda li a legislação, informei-me e desisti. Se fosse rica e pudesse ir ao estrangeiro seria bem possível e rápido o processo, mas está visto que não é o meu caso. 
Tudo isto porque conheço famílias incompletas, os meus tios não têm filhos; amigos dos meus pais e conhecidos mais. Todos gostariam de ter e todos tentaram ter. Não sei se nalgum dos casos tentaram a adopção. Os meus tios criaram a minha prima como filha, como foi noutro país não sei muito bem a história toda. E não sei se toda a minha família a considera "Família", para mim é minha prima sempre foi e sempre será!
Imagino que para um casal que passa anos a tentar engravidar, sem sucesso, embrenhar-se num processo exaustivo de adopção, requeira forças sobre-humanas e, nem toda a gente apesar de muito amor para dar consegue. Não deve ser uma decisão fácil, nem um processo sempre alegre.
Eu não perdi o desejo de adoptar uma criança, sendo professora lidei com alguns meninos adoptados e quanto mais velhos, mais complicado se torna reeducá-los, fazê-los acreditar que não os vamos abandonar; lidar com a carga psicológica que ser abandonado pelos pais os deixa. São crianças carentes, afectuosas, cheias de energia...basicamente são crianças como qualquer outra, trazem problemas e alegrias. 
Nenhuma criança deveria estar numa instituição, todas deveriam ter um lar.
Eu não sei o que é querer gerar um filho e não conseguir, imagino que nos marque a vida toda; que cada vez que vemos uma criança nos sintámos felizes/tristes. 
Um amigo casado e sem filhos dos meus pais, desde que me lembro de ser gente que me adoptou como sua filha. Dava-me os melhores presentes; levava-me a passear; dava-me colo; gelados; escrevia-me postais de aniversário com uma letra maravilhosa e referia-se sempre aos anos como "Primaveras". Eu sabia que tudo que precisasse podia contar com ele. Ele ainda não morreu, mas a doença chegou cedo e da forma mais cruel, tirou-lhe o entendimento das coisas. Sempre vi que ele via em mim a filha que nunca teve e, a mim nunca me transtornou haver alguém que gostasse tanto de mim. 
Acho que o que quero dizer, se é que faz algum sentido, é que mesmo quem não consegue ter filhos pode amar uma criança ou várias. Algumas instituições permitem que sejamos amigos de crianças institucionalizadas, como é o caso das Aldeias SOS- pelo menos de Gulpilhares, podemos trazer uma criança aos fins-de-semana para nossa casa e por pouco tempo que seja, nesses dois dias sermos os melhores amigos/pais/companheiros que ela poderá desejar. Ainda que possa ser uma relação pouco perfeita é um princípio. A Casa do Gaioto -pelo menos a de Via Longa, permite actividades colectivas com os meninos. O meu mais que tudo costumava reunir o seu grupo de ciclistas amadores e davam passeios com os meninos aos Domingos de manhã. Segundo ele as caras deles iluminavam-se!
Amar e darmo-nos a outra pessoa, neste caso uma criança, inspira o mundo a ser melhor...e às vezes o amor, está naquele sorriso acanhado ao virar da esquina!

Mas isto são as minhas teorias, cada um sabe de si!

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