Gosto da minha terra! Aquela que me pôs no mundo; que me viu conduzir pela primeira vez; que me viu transformar em mulher; que me viu chorar de amor; que me viu fazer amizades para a vida; que tem o melhor pôr do sol do mundo; que cheira a maresia; que me aceitou em romances nocturnos; que cheira a peixe fresquinho e onde os comboios se cruzam em velocidade.
Gosto de Arcozelo e gosto da praia da Aguda, separados pela linha do comboio, separados pela antiga estrada 109. Gosto de sair da A29, fazer a rotunda, cortar para Miramar e ir pela beira-mar observando as ondas. Gosto do mar encrespado enquanto caminho na passadeira de madeira. Gosto como o meu nariz começa a pingar com a aragem do mar e o vento na cara me seca a pele e sacode os cabelos. Sinto-me viva e plenamente feliz nesse lugar.
Sentada numa esplanada de dia ou na areia em cumplicidades a dois à noite, sou a mulher mais feliz que já viram. Nunca outro lugar me trouxe tamanha serenidade e sorriso na cara. Aqui ao longe onde me encontro, a muitos quilómetros dessa minha costa, bate a saudade, sinto o vazio.
Muitos dias ao acordar olho o rio, como hoje, mas o rio não me faz sorrir. Ao longe vejo-o estático, não me traz emoção. Quero a minha praia da Aguda pertinho, o meu Arcozelo de rotundas estranhas e paralelos e buracos. Arcozelo onde todas as caras me são familiares, onde em qualquer lado se pode estacionar, onde se lavam os carros na rua e as carpetes no meio do pátio. Arcozelo onde ao sábado as gentes vão ao cemitério e ao domingo à feira da santa e à missa das 10:30.
Aguda onde se vai ao peixe ao sábado de manhã, espreitando as ciganas o que vendem e após o almoço tomar um café ou dar uma caminhada. Quero a costa do norte, com 17km de praias onde andar a pé não é desporto mas um desfrutar de uma beleza linda. Quero os amigos de longa data pertinho para fazermos noitadas num carro ao frio a contar histórias de terror ou na casa de um de nós a comer e beber em amena cavaqueira.
Quero que a Lai cresça livre, que vá ao quintal com os avós colher o que vai almoçar; que passe o muro para ir brincar com os vizinhos, que deixe cartas escondidas num vaso, que aprenda a andar de bicicleta na carreirinha, que vista a sua melhor roupa porque é domingo e que ao sábado vá saudar o mar. Quero que ela saiba o que é ser totalmente feliz e livre, rodeada de quem mais a ama!
Parte-me o coração saber que nada disto é possível, que sou eu ainda a dormir. Vivemos no meio do betão, fechados numa gaiola em que se ouvem ruídos perigosos ao longe. Resta-me saber que há dias de férias e que esses serão sempre longe deste dormitório.
Volvidos 6 anos isto não é a minha casa e este sentimento mata-me todos os dias um pouco. Não gosto de aqui viver, nunca gostei. Lisboa não me oferece o que dou valor, o amor dos meus. Aqui tudo é solidão, somos os 3 e disso não passa. Preciso de mais para ser feliz, preciso de todos os que amo pertinho.
Pelo que descreves em posts anteriores,suponho que estejas desempregada. Porque não tentar uma mudança de vida e de cidade? Arranjar emprego não está fácil pra ninguém,mas se o teu marido for bom no que faz, não pode ser assim tão complicado arranjar algo no norte!
ResponderEliminarEstamos a pensar mudar de país, mas não é uma decisão de ânimo leve a tomar! Ele tem um bom emprego cá, largar e ir para outro no norte, nesta situação económica era maluqueira!Eu tou desempregada sim!
ResponderEliminar